20/05/2010

Descartes: O método e Deus








René Descartes (1596-1650) tem sido considerado o mais famoso gênio do século XVII. Com ele se coloca na história uma primeira pedra divisória com respeito ao pensamento antigo e medieval, e em razão disso ele é chamado de o “pai da Filosofia Moderna”. Sua idéia central é a da criação de um sistema filosófico totalmente inquestionável, livre de críticas e perfeitamente organizado, com coerência lógica, como por exemplo, acontece com a matemática. Ele propunha que o pensamento científico fosse estruturado de tal modo que não pudesse ser destruído por simples opinião de qualquer leigo na matéria.

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As regras do método

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Para evitar o erro, não basta à inteligência, é necessário saber aplicá-la adequadamente, e isto requer um método. Descartes põe especial ênfase na necessidade de um método racional, que por princípio imunize o homem do erro. Em “o discurso do método” ele descreve suas famosas quatro regras metódicas, as quais são:

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• Regra da evidência: Não aceitar como verdadeiro o que não é evidente. O em outros termos, tratar de captar intuitivamente o objeto próprio da inteligência, a saber, as idéias claras e distintas. A palavra só pode possuir a verdade quando o espírito capta as idéias com toda a sua evidência, de um modo fácil, imediato, sereno e claro. Esta evidência já não pode conter a dúvida ou o erro.

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• Regra da análise: Dividir cada uma das dificuldades que se vai examinar, em todas as partes como seja possível e necessário para resolvê-la melhor. Descompor as idéias complexas em suas partes mais simples.

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• Regra da síntese: conduzir por ordem os pensamentos, analisando primeiro os objetos mais simples, mais fáceis de conhecer, para subir gradualmente até o conhecimento dos mais complexos.

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• Regra das enumerações e repetições: fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais, para estar seguro de não omitir nada. Com isso se consegue uma intuição global do assunto tratado, de tal maneira que a inteligência possa dominar a matéria do começo até o fim, o qual supõe a repetição ou repetição do caminho andado.

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A dúvida metódica

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Uma vez estabelecido o método a seguir, Descartes se propõe a edificar uma filosofia perfeitamente estruturada, ao modo das ciências matemáticas. Para ele será necessário partir de uma verdade absolutamente indubitável, da qual se poderá derivar todo o edifício filosófico. Para encontrar essa primeira verdade, é preciso apagar todo o conhecimento anterior que não está devidamente fundamentado. Para tanto, temos que duvidar de tudo o que percebemos pelos sentidos e de todos os conhecimentos científicos.

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A dúvida de que propõe Descartes tem a ver com a finalidade fundamental da nova filosofia sobre base indubitável. Isso, entretanto não se trata de uma dúvida cética, cujo objetivo é duvidar por duvidar. Mas é uma dúvida metódica, posta somente como um método médio, para se chegar a um princípio completamente evidente.

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Descartes insistia demasiadamente nos motivos necessário para se duvidar. Ele simula a hipótese de um gênio maligno. Suponhamos, diz ele, que haja um espírito maligno que está especialmente dedicado a induzir- nos ao erro, a ilusão da verdade. E por outro lado, é um fato que temos caindo em erros, sem nos darmos contas deles. E por último, como podemos saber se o que nos sucede agora não é um sonho? Essas interrogações levaram Descartes a se lançar em buscar de um primeiro princípio: “posso duvidar de tudo menos do fato de que estou duvidando”. Se duvido é que penso, se penso , é que existo. Deste modo ele chega ao que parece ser o seu primeiro princípio fundamental: “penso logo Existe” (COGITO ERGO SUM). Todo mundo pode duvidar do que queira, porém não pode duvidar de sua própria existência. Partindo deste princípio fundamental, qual seja o pensamento. Descartes vai postular a existência de Deus.

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Deus afirmado

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Descartes trata de provar a existência de Deus baseando-se somente na consciência racional de sua própria existência e pensamentos internos. Seus argumentos sobre Deus podem ser resumidos assim:

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1. Tenho uma idéia de um Deus infinito.

2. Posto que sou finito, não posso ter criado está idéia eu mesmo.

3. Para qualquer efeito, a causa que o produziu deve ser tão grande como o efeito mesmo.

4. Por tanto, a ideia de um Deus infinito tem que ser causada por um ser infinito.

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Para estruturar melhor esses pressupostos, Descartes, elabora outro argumento:

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1. Não sou perfeito porque duvido (não tenho conhecimento perfeito).

2. Para ter uma idéia de imperfeição, tenho que ter uma idéia lógica de perfeição.

3. Não posso ter criado está idéia em mim mesmo porque para qualquer efeito, a causa que o produziu deve ser igual ou maior que o efeito mesmo.

4. Por conseguinte, a ideia de perfeição tem que ter sido colocada em mim por algo perfeito.

5. Deus é o único ser perfeito. Por conseguinte, Deus tem de existir.

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Seu raciocínio nos leva irremediavelmente a conclusão: Deus tem que existir para por essa ideia em mim. Como vimos, Descartes primeiro estabelece a indubitalidade de sua própria existência, para em seguida colocar a existência de Deus. O que Descartes chama de uma ideia “implantada’ por Deus em seu ser, Calvino chama de “a semente da religião”(leia Rm 1e 2).



por Adriano Carvalho

do Rio de Janeiro para o INPR Brasil








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