Pressupostos iniciais para o estudo da doutrina da Trindade

Pressupostos iniciais para o estudo da doutrina da Trindade

Deus revela algo de sua complexidade na doutrina da trindade. Tudo o que conhecemos sobre a trindade o sabemos através da revelação que Deus realiza na bíblia, e ainda assim não a conhecemos bem. De modo que é muito fácil nos equivocarmos ao tratarmos desta matéria. Por isso devemos ser extremamente cuidadosos para não excedermos nem mal interpretarmos o que encontramos nas Escrituras.

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Os cristãos de um modo geral creem como os judeus, que Deus é um. Entretanto, diferente dos judeus, os cristãos vêem uma pluralidade na divindade. Isso tem feito pesar sobre os cristãos a acusação equivocada de que crêem em três deuses à maneira dos politeístas. Mas isso não é verdade; como os judeus, os crentes são monoteístas, isto é, cremos em um único Deus. Podemos recitar em uníssono como os judeus: Ouve Israel: Jeová nosso Deus, é o único Senhor (leia Dt 6.4-9).

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Esta mesma verdade aparece no Novo Testamento, que é exclusivamente cristão. Ali lemos que : “não há senão um só Deus” (1 Co.8.4).O Novo Testamento nos recorda que há “um Deus e pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos” (Ef. 4.6). Tiago nos diz: “Tu crês que Deus é um; fazes bem”(Tiago 2.19).

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Os oponentes do ensino da trindade afirmam que não há lugar para a trindade no versículo que citamos de Deuteronômio. O que eles não sabem é que o termo original hebraico para “único” é “ECHAD” que significa não um “uno” isolado, mas sim “uno” em unidade. E mais, na bíblia hebraica essa palavra não se usa nunca para significar uma entidade singular e isolada. É, antes, a palavra usada para falar sobre um cacho de uvas, por exemplo, ou quando nos dizem que as pessoas em Israel responderam como um povo. Um outro texto onde o termo “ECHAD” aparece é Gn 2.23-24. O que se sugere aqui não é que o homem e a mulher irão se converter em uma só pessoa, mas sim que de uma maneira divina se converterão em um “uno”. De uma maneira similar, porém não idêntica. Deus é um único Deus, porém, existe em três “pessoas”.

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Uma grande dificuldade no estudo da trindade é a que existe para acharmos uma palavra que possa expressar a natureza das distintas existências dentro da divindade. A melhor palavra que temos é “persona”, que do latim é uma referência à máscara que um ator usava quando representava uma personagem em uma obra teatral grega. Porém quando falamos de uma máscara já nos desviamos do verdadeiro significado. Porque não devemos imaginar as pessoas dentro da divindade como sendo meramente a maneira como Deus de tempo em tempo se manifesta aos seres humanos. Este era o erro do sabelianismo e do modalismo.

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A palavra grega mais comumente usada é “HOMOOUSIOS” que literalmente significa “UM SER”. Porém novamente, este nome produz um equívoco se por ele começarmos a entender que temos três seres distintos com três naturezas diferentes dentro da divindade. O reformador Calvino não estava satisfeito com nenhuma destas palavras. Preferia usar o termo “substância”. Embora esta palavra possa ser melhor que a anterior, não transmite muito significado a maioria dos leitores contemporâneos.

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Na realidade, a palavra “pessoa” é a melhor escolha sempre e quando temos presente o que entendemos por uma pessoa. No linguajar cotidiano denotamos um ser humano, alguém que é apenas um indivíduo. É o conceito que temos em mente quando se trata de despersonificar alguém. Porém esse não é o significado que encontramos na teologia bíblica.

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É possível ser uma pessoa completamente dissociada de uma existência corporal. Podemos, a modo de exemplo, perder um braço ou uma mão em um acidente, porém seguiremos sendo uma pessoa com todas as marcas de nossa personalidade. Aliás, de acordo com o ensinamento cristão, ainda quando estivermos mortos e nossos corpos entrarem em decomposição, todavia seguiremos sendo pessoas.

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O que queremos significar é um sentido de existência que se expressa em conhecimento, sentimento e vontade.

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Temos assim três pessoas ou substâncias dentro da divindade, cada qual com conhecimento, sentimento e vontade. As três pessoas são iguais na substância e nos atributos absolutos metafísicos e morais como o confirmam os versículos: Do pai é dito: “Desde o princípio tu fundaste a terra, e os céus são obras de tua mão” (leia Salmo 102.25). Do filho lemos: “Pois, Nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra... (Cl 1.16). Por último lemos do Filho: “O Espírito de Deus me fez” (Jó.33.4).

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Nós cristãos cremos na doutrina da trindade não porque podemos entendê-la, mas porque a bíblia nos tem ensinado sobre ela. E qualquer oposição que lhe é feita, com certeza não será baseada em textos bíblicos de fácil compreensão.

por Adriano Carvalho

do Rio de Janeiro para o INPR Brasil