20/05/2010

A inspiração das Escrituras: o predomínio da Ortodoxia?










Nos últimos 200 anos a ortodoxia cristã tem estado em combate ininterruptamente, sem dar tréguas um instante se quer a um grupo emergente de pensadores e teólogos que sustentam uma opinião contrária àquela que a igreja cristã sustenta por quase 18 séculos. Nosso foco aqui é apresentar essas opiniões contrárias, e como a ortodoxia continuou afirmando inequivocadamente sua opinião a respeito da inspiração das Sagradas Escrituras.

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Ao longo dos 18 séculos a ortodoxia, como já foi dito acima, vem afirmando que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada verbalmente, isto é, o registro foi inspirado por Deus. Embora haja entre os ortodoxos uma pequena divergência com respeito a qual foi de fato o papel do escritor no registro bíblico. Seja qual for a opinião a que chegarão, não porá em risco a afirmação entre eles sobre a inspiração. Embora estejam divididos em duas alas, quanto ao papel do escritor no registro bíblico, são unânimes na afirmação da inspiração da Bíblia. Uma ala da ortodoxia tem sustentado que a função do escritor bíblico era apenas de registrar o que Deus lhes havia ditado, palavra por palavra. Essa teoria é conhecida como “ditado verbal”. Uma outra ala por sua vez, sustenta que os escritores bíblicos tiveram seus pensamentos inspirados e os revestiram com suas próprias palavras. Essa teoria é conhecida por “inspiração conceitual”.

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Agora iremos apresentar as opiniões que ignoram que a Bíblia seja a Palavra de Deus, ou melhor, que o registro bíblico seja plenamente inspirado.

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Os neo-ortodoxos

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No início do século XX, a reviravolta nos acontecimentos mundiais e a influência do pai dinamarquês do existencialismo, Soren Kierkegaard, deram origem a uma nova reforma na teologia europeia. Muitos estudiosos começaram a voltar-se de novo para as Escrituras, a fim de ouvir nelas a voz de Deus. Sem abrir mão de suas opiniões críticas a respeito da Bíblia, começaram a levar a Bíblia a sério por ser a fonte da revelação de Deus aos homens. Criando um novo tipo de ortodoxia, afirmavam que Deus fala aos homens mediante a Bíblia; as Escrituras tornam-se a Palavra de Deus num encontro pessoal entre Deus e o homem.

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À semelhança das outras teorias a respeito da inspiração da Bíblia, a neo-ortodoxia desenvolveu duas correntes, as quais são: Visão demitizante e a Visão do encontro pessoal.

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Na extremidade mais importante estavam os demitizadores, que negam todo e qualquer conteúdo religioso importante, factual ou histórico nas páginas da Bíblia, e crêem apenas na preocupação religiosa existencial sobre a qual medram os mitos. Na outra extremidade, os pensadores de tendência mais evangélica tentam preservar a maior parte dos dados factuais e históricos das Escrituras, mas sustentam que a Bíblia de modo algum é revelação de Deus. Antes, Deus se revela na Bíblia nos encontros pessoais; não, porém, de maneira proposicional.

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Visão demitizante: Rudolf Bultmann e Shubert Ogden são representantes característicos da visão demitizante. Ambos diferem entre si, uma vez que Ogden não vê nenhum cerne histórico que dê consistência aos mitos da Bíblia, embora Bultmann consiga enxergar isso. Ambos concordam que a Bíblia foi escrita em linguagem mitológica, a da época de seus autores, época já passada e obsoleta.

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A tarefa do cristão moderno é demitizar a Bíblia, ou seja, despi-la de seus trajes lendários, mitológicos, e descobrir o conhecimento existencial a ela subjacente. Afirma Bultmann que, a partir do momento que a Bíblia é despida desses mitos religiosos, a pessoa encontra a verdadeira mensagem do amor sacrificial de Deus em Cristo. Não é necessário que a pessoa se prenda a uma revelação objetiva, histórica e proposicional, a fim de experimentar essa verdade pessoal e subjetiva. Daí decorre que a Bíblia torna-se a revelação de Deus aos homens, mediante uma interpretação adequada (i.e., demitizada), quando a pessoa depara com o amor absoluto, exposto no mito do amor altruísta de Deus em Cristo. Por isso, a Bíblia em si mesma não é revelação alguma; é apenas uma expressão primitiva, mitológica, mediante a qual Deus se revela pessoalmente, desde que demitizado da maneira correta.

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Encontro pessoal: A outra corrente da neo-ortodoxia, representada por Karl Barth e Emil Brunner, nutre uma visão mais ortodoxa das Escrituras. Barth reconhece que existem algumas imperfeições no registro escrito (até mesmo nos autógrafos) e, no entanto, afirma que a Bíblia é a fonte da revelação de Deus. Afirma ele que Deus nos fala mediante a Bíblia que ela é o veículo de sua revelação. Assim como um cão ouve a voz de seu dono, gravada de modo imperfeito na gravação de uma fita ou disco, assim também o cristão pode ouvir a voz de Deus que ressoa nas Escrituras.

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Afirma Brunner que a revelação de Deus não é proposicional (i.e., feita por meio de palavras). Assim, a Bíblia, como se nos apresenta deixa de ser uma revelação de Deus, passando a ser mero registro da revelação pessoal de Deus aos homens de Deus em eras passadas. Todavia, sempre que o homem moderno se encontra com Deus, mediante as Escrituras Sagradas, a Bíblia torna-se a Palavra de Deus para nós. Em contraposição à visão ortodoxa, para os teólogos neo-ortodoxos a Bíblia não seria um registro inspirado. Antes, é um registro imperfeito, que apesar dessa mesma imperfeição, constitui o testemunho singular da revelação de Deus. Quando Deus surge no registro escrito, de maneira pessoal, a fim de falar ao leitor, a Bíblia nesse momento torna-se a Palavra de Deus para esse leitor.

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A neo-ortodoxia peca ao ignorar o propósito precípuo pelo qual a bíblia foi escrita, qual seja, revelar o plano redentivo de Deus. Está claro a qualquer leitor atento das Escrituras que o registro bíblico tem por finalidade, falar da tragédia humana originada a partir da desobediência de Adão e Eva à palavra de Deus. O que se segue após o registro do livro de Gênesis é apenas as várias maneiras de apresentação de tal tragicidade, e como a graça divina procurou dialogar com o homem caído.

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Se o que a Bíblia diz sobre o homem e os fatos ali registrados não é perfeito, segue- se que a descrição sobre Deus também o seja, logo, nenhum encontro transformador ou revelacional pode surgir do encontro do homem com Deus a partir da leitura de um texto imperfeito, como afirmam os neo-ortodoxos. Até mesmo a figura de Deus é colocada em xeque, uma vez que tudo o que sabemos sobre Deus é fruto do que sobre Ele lemos na Bíblia. O conceito neo-ortodoxo, não coloca apenas em xeque o registro bíblico, Deus também aqui é colocado em xeque. Se a palavra de Deus na Bíblia é imperfeita, segue-se que o Deus da bíblia também o seja, como já afirmamos.

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Se perdermos o sentido da inspiração do texto e buscarmos um outro sentido fomentado na experiência subjetiva do indivíduo, com certeza produziremos, aí sim, uma opinião imperfeita da bíblia. O registro bíblico não pode depender do resultado que provoca na experiência subjetiva do indivíduo para poder ser reconhecido como palavra de Deus. A Bíblia é palavra de Deus exatamente porque afirma o contrário, isto é, que à parte daquela experiência produzida pelo Espírito Santo iluminando a mente e o coração do homem e dirigindo-o para a verdade, nenhuma, nenhuma mesmo, experiência subjetiva tem sua validade atestada como critério para a verdade, principalmente em razão do que, o próprio texto bíblico diz sobre o homem: “Ele é um morto espiritual”, e como tal, toda a sua aparelhagem crítica como critério para estabelecer verdades espirituais é falha.

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Por último, precisamos entender que a inspiração da Bíblia está no texto e não nos autores. É o texto que é inspirado.

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Isso deixa claro que seja qual for o assunto apresentado pela Bíblia, ela só dirá o que é verdadeiro sobre o mesmo. E isso é verdade, mesmo quando a Bíblia fala sobre assuntos históricos ou científicos. Pois inspiração pressupõe inerrância, nada do que a Bíblia ensina contém erro, visto que a inerrância é a consequência lógica da inspiração divina. Afirmar como alguns que só o que a Bíblia fala sobre doutrina e coisas espirituais é verdade, é simplesmente ignorar que muitas doutrinas estão baseadas em registros históricos encontrados na bíblia, imagine caro leitor, o que seria de nós, se o registro histórico da morte e da ressurreição de Jesus não puder ser aceito como uma verdade inerrante. O que sobraria ao cristianismo, nada, nada, nada mesmo, como disse Paulo, nossa fé seria vã. E mais, se a bíblia não está perfeitamente certa quando fala de assuntos históricos e científicos, o que me garante que ela está certa quando fala de assuntos espirituais. Prefiro descansar minha mente e meu coração no testemunho interno das Escrituras que afirma inequivocamente que a bíblia é a palavra de Deus.



por Adriano Carvalho

do Rio de Janeiro para o INPR Brasil






2 comentários:

Pr. Marcos Cavalcanti disse...

Bom dia irmão Graça e paz da parte de Deus...

Irmão favor não pense que estou perseguindo vocês pelo fato de sempre escrever coisas que estão contrárias as que vocês escrevem...

Não estou dizendo que vocês estejam pensando assim, mais é que talvez seja dificil pra vocês...

Bom aqui está o seguinte comentário:

A Biblia são as palavras de Deus...

Esta afirmação não esta correta irmão e porque? Eu vou apontar um verso das escrituras e eu quero que me respondam com toda a sinceridade por favor, se este verso foi inspirado por Deus.

(Gen 3:1-2;4)Ora a sepertente... ... E esta disse a mulher: É assim que Deus disse: Não comerei de toda arvore do jardim? Respondeu a mulher a serpente... ...Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis.

As palavras proferidas pela serpente são palavras inspiradas por Deus?

As palavras da serpente estão contidas nas escrituras, mais não foram proferidas por Deus, acreditar nisto constitui uma blasfemia.

As palavras inspiradas por Deus não são mentiras, Deus não pode mentir (Tito 1:2)Na esperança da vida eterna, a qual Deus que não pode mentir...

Portanto acreditar que Deus inspira as pessoas a mentir, é uma blasfemia.

27 de maio de 2010 às 07:40
Anônimo disse...

Meu irmão, não quero criticar o seu trabalho, mas mesmo em artigos de blogs, deve conter as fontes de suas citações diretas de autores e obras, se não se trabalho fica desvalorizado.

Só pensei em ajudar.

11 de dezembro de 2010 às 12:51
 
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