20/05/2010

A providência de Deus










É provável que não exista um tema sobre a doutrina de Deus que gere tanto conflito como a doutrina cristã da providência. A providência significa que Deus não abandona o mundo que criou. O Deus da bíblia segue administrando com seu cuidado e eterno conselho tudo o que ocorre no mundo e fora dele. A mitologia grega concebia seus deuses como figuras frias que não se preocupavam com a realidade da vida dos homens aqui na terra. Lembremos do caso de Prometeu que teve que roubar o fogo dos deuses para dar aos homens para que esses não morressem de frio. Prometeu pagou um preço caríssimo por essa atitude filântropa. Zeus o acorrentou em alto monte, e todos os dias enviava uma águia para devorar seu fígado. A cada manhã o fígado de Prometeu se regenerava para novamente tornar a ser devorado pela águia de Zeus. Este episódio mostra como Zeus o chefe do panteão dos deuses gregos puniu uma boa ação feita à humanidade.

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Alguns creem que Deus, embora tenha criado o mundo, não intervém nos assuntos terrenos. Afirmam que assumir a providência de Deus como uma ação atual e real no mundo seria simplesmente ignorar o livre arbítrio e a responsabilidade do homem no mundo. O que não é verdade, como veremos mais à frente. Essas mesmas pessoas crêem ainda que não seja possível o milagre, que as orações não são respondidas e que a maioria das coisas sucede de acordo com o funcionamento de leis impessoais e imodificáveis.

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Outras pessoas veem na condição atual do mundo e da humanidade um empecilho para a doutrina cristã da providência de Deus. Como pode ser a maldade compatível com o conceito de um Deus que é bom e governa ativamente o mundo? Um mundo onde abundam os desastres naturais: terremotos, inundações e hecatombes. Desastres que formalmente se conhecem como “atos de Deus”. Devemos culpar a Deus porque ocorrem? Não seria mais conveniente pensar que Ele simplesmente tem desejado que o mundo siga o seu próprio curso? Embora à primeira vista esse tipo de argumentação pareça ser sensato, na verdade não tem coerência bíblica e não corresponde à verdade.

Não poderemos avançar satisfatoriamente na exposição do referido tema se não considerarmos o tríplice aspecto que envolve o mesmo, qual seja: O governo de Deus sobre as pessoas, o governo de Deus sobre a natureza e o fluxo da história.

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O governo de Deus sobre as pessoas

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O ponto que mais nos interessa, não é o governo de Deus sobre a natureza ou sobre os anjos. Mas sim como opera a providência de Deus em nós seres humanos, e especialmente quando decidimos desobedecê-lo. Deus estabeleceu quais coisas deveria o homem fazer. O não cumprimento desta ordem acarretaria prejuízos e danos aos homens. Deus estabeleceu leis que governam a desobediência e o pecado, da mesma forma que tem estabelecido leis que governam o mundo físico. Quando as pessoas pecam, em geral crêem que o fazem segundo seus termos. Mas Deus diz, com efeito: “Quando desobedecem, farão segundo minhas leis e não às suas próprias”.

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Em Romanos 1.22-23 temos um quadro muito vívido do que acabamos de descrever. Três vezes nos versículos seguintes lemos que por causa de sua rebelião “Deus os entregou”. Essas palavras são terríveis. Porém quando nos diz que Deus os entregou não nos diz que Deus os entregou a nada, como se simplesmente os houvesse soltado de sua mão e os houvesse deixado à deriva. Em cada um dos casos nos diz que Deus os entregou a algo: Primeiro Ele os entregou, “à imundícia, às concupiscências de seus corações, de modo que desonram entre si seus corpos” (vs.24); Segundo, Ele os entregou, “a paixões vergonhosas” (vs.26); Terceiro Ele os entregou, “a uma mente reprovada, para fazer coisas que não convém” (vs.28). Em outras palavras, Deus permitirá que os infiéis sigam o seu próprio caminho, porém em sua sabedoria tem determinado onde eles podem ir segundo suas regras e não a deles.

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O governo de Deus sobre a natureza

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Uma das grandes interrogações da ciência é o fato da natureza operar segundo determinados padrões ao mesmo tempo em que está em contínua mudança. Nada é nunca o mesmo. Os rios correm as montanhas se elevam, as flores brotam, murcham e morrem, o mar está em constante movimento. Porém, em certo sentido tudo permanece igual. A experiência da natureza de uma geração é similar à experiência de mil gerações que tem precedido.

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A ciência busca explicar esta uniformidade fazendo referência às leis de probabilidade ou às leis do movimento browniano. Porém estas explicações são insuficientes. Por exemplo, de acordo com essas mesmas leis da probabilidade é bastante possível que em determinado instante as moléculas de um gás ou um sólido se movam na mesma direção em lugar de mover-se em qualquer direção por azar; nesse caso, essa substância não seria o que é e as leis da ciência com respeito a elas não seriam operantes. De onde é possível que provenha esta uniformidade se não provem de Deus? A bíblia afirma que tal uniformidade provem de Deus quando nos fala de Cristo como “quem sustenta todas as coisas com a palavra de seu poder (leia Hebreus 1.3) e nos diz que “todas as coisas Nele subsistem”(leia Cl 1.17). Devemos entender que é a providência de Deus que comanda o mundo tal como conhecemos.

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O fluxo da História

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Existe algo mais que precisamos saber sobre a providência de Deus. Ela tem um propósito, está orientada para um fim. A história real existe como tal. O fluxo dos acontecimentos humanos está indo a algum lugar; não é meramente estático ou sem significado. No caso de Jonas, o fluxo da história o conduziu eventualmente, ao trabalho missionário e à conversão do povo de Nínive. Se tomarmos um panorama mais amplo, a história flui para a glorificação de Deus em todos os seus atributos, principalmente na pessoa de seu filho, o Senhor Jesus Cristo.

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A providência não exclui a responsabilidade do homem. Existe um Deus cuidadoso isso é verdade, mas esse mesmo Deus exige do homem responsabilidade em suas ações. E se há algo que Deus não faz mesmo, e isso está claro na bíblia, é fazer aquilo que só ao homem cabe fazer. O Deus da bíblia exige que o homem seja responsável, e é baseada na resposta que o homem dá a essa exigência, que se desenrola sua relação com o criador.

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Não se deve confundir providência de Deus com o acaso (destino) ou com a sorte

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Na linguagem pagã destino ou sorte são termos usados para descrever eventos que fogem à ordem natural das coisas e não podem ser previstos. Alguns até mesmo sugerem que determinados fatos são ignorados pelo próprio Deus. Ou seja, Deus não sabe o futuro, logo não pode intervir nele (Teologia relacional). Assim o homem se torna refém do acaso ou da sorte. É claro que tal ensino não tem base bíblica. Pois a bíblia ensina a providência que é uma ação consciente de Deus na história e na vida dos homens, como acabamos de aprender nesse pequeno texto.

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por Adriano Carvalho

do Rio de Janeiro para o INPR Brasil






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