A expressão “dons espirituais” representa a tradução comum, em português, do substantivo grego que aparece no neutro plural, CHARISMATA, formado de CHARIZESTHAI (mostrar favor, dar gratuitamente), e que é relacionado ao substantivo CHARIS (graça). Os CHARISMATA, por conseguinte, podem ser chamados com exatidão de “dons graciosos”. A forma singular é encontrada em Rm 1.11; 5.15-16; 6.23; 1 Co 1.7; 7.7; 2 Co 1.11; 1 Tm 4.14; 2Tm 1.6; 1 Pe 4.10; e a forma plural é encontrada em Rm 11.29; 12.6; 1Co 12.4,9. A forma plural é empregada principalmente em sentido técnico a fim de denotar os dons extraordinários do Espírito Santo proporcionados ao crente tendo em vista algum serviço especial, ainda que em algumas poucas instâncias a forma singular seja usada em sentido distributivo ou semi-coletivo e com significação técnica semelhante (cf. 1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6; 1 Pe 4.10).
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A difusão geral dos dons do Espírito Santo, assinalando a nova dispensação, foi predita pelo profeta Joel (2.28) e confirmada pelas promessas de Cristo a seus discípulos (Mc 16.17; Jo14.12; At 1.8). No dia de Pentecoste essas promessas foram cumpridas (At 2). Posteriormente numerosos dons são mencionados por Lucas ( Atos 3.6; 5.12-16; 8.13,18; 9.33-41; 10.45) por Pedro ( 1Pe 4.10), e por Paulo (Rm 12.6-8; 1 Co 12-14), o qual também os descreve como “coisas espirituais” (em grego, pneumatika, 1 Co 12.1; 14.1) e “espíritos”, isto é, diferentes manifestações do Espírito ( em grego pneumata, 1 Co 14.12). Os dons são distribuídos pelo Espírito Santo segundo a sua vontade soberana (1 Co 12.11), e um crente individual pode receber um ou mais desses dons (1 Co 12.8 e Seg.; 14.5,13). O propósito desses dons carismáticos é primariamente a edificação da igreja inteira(1 Co 12.4-7; 14.12) e em segundo lugar, a convicção e conversão de incrédulos ( 1 Co 14.21-25; cf At 2.12).
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Aqui é preciso colocar um problema que tem divido a igreja nos últimos 100 anos. Qual seja, se os dons espirituais eram dádivas temporárias, ou são dádivas para todo o tempo da igreja. Duas tendências se revelam aqui, os CONTINUÍSTAS (que afirmam a continuação dos dons) e os CESSACIONISTAS (que afirmam que os dons foram dádivas que foram dadas exclusivamente a igreja apostólica, isto é a igreja do 1º século. E depois desse tempo os dons cessaram). Os CONTINUÍSTAS (são em sua maioria pentecostais), já os CESSACIONISTAS (são em sua maioria Reformados. Mas muitos reformados se declaram CONTINUÍSTAS).
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Vejamos agora o ponto de vista dessas duas tendências
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Os Continuístas que afirmam a atualidade dos dons espirituais. Baseiam suas afirmações nos eventos históricos acontecidos a menos de um século, ou seja, os grandes avivamentos. Afirmam ainda, que a ausência dos dons espirituais depois do Primeiro século da igreja, se deu pela apostasia da igreja. E que agora nos últimos anos Deus tem “visitado” sua igreja tornando-a vigorosa pela presença dos dons espirituais.
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Os Cessacionistas, por sua vez, não concordam com essa opinião. Eles afirmam que os dons espirituais foram dados para fundação da igreja e cessaram durante o quarto século da nossa era, quando a igreja se tornou vigorosa o bastante para prosseguir sem sua assistência. Warfield mantinha o ponto de vista que os Charismata foram dados para autenticar os apóstolos como mensageiros de Deus, e que um sinal de um apóstolo era a possessão desses dons e o poder de conferi-los a outros crentes. Os dons gradualmente cessaram com a morte daqueles sobre quem os apóstolos os haviam conferido.
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W.H. Griffith Thomas via os Charismata como um testemunho para Israel acerca do caráter messiânico de Jesus, que se tornaram inoperantes depois do fim da história relatada no livro de Atos, quando Israel rejeitou o evangelho.
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Alguns teólogos sustentam que é possível reconciliar esses pontos de vista distinguindo-se entre aquelas manifestações sobrenaturais descritas como “sinais” “semeia” que acompanharam a nossa dispensação e estavam intimamente associados com o círculo apostólico e a evangelização dos judeus e dos samaritanos (Mc 16.17; At 2.19; 4.16,22,30; 5.12; 6.8; 8.6-13; 14.3; Rm 15.19; 2Co 12.12; Hb 2.3) e aqueles dons que permanecerão até que venha “o que é perfeito”(1 Co 13.8-10).
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A lista dos Charismata no Novo Testamento (Rm 12.6-8; 1Co 12.4-11, 28,30; Ef 4.7-12)são claramente incompletas. Várias classificações dos dons têm sido tentadas, mas os dons se dividem mais simplesmente em duas categorias - aqueles que qualificam os seus possuidores para o ministério da palavra e aqueles que os equipam para o serviço prático. Vejamos:
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Dons da palavra
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Apóstolo (em grego, apóstolos, literalmente, “enviado”, missionário. 1 Co 12.28; Ef 4.11) O título de “apóstolo” foi originalmente privilégio exclusivo dos doze (Mt 10.2; Lc 6.13; At 1.25). Mas foi posteriormente assumido por Paulo (Rm 1.1; 1 Co 9.1), e aplicado em sentido menos restrito a Barnabé (At 14.4,14), Andronico e Júnias (Rm 16.7), e possivelmente a Apolo (1 Co 4.6,9), Silvano e Timóteo ( 1 Ts 1.1; 2.6) e Tiago, irmão do Senhor (1 Co 15.7; Gl 1.19). A função especial de um apóstolo era, conforme o seu significado deixa subtendido, proclamar o evangelho a um mundo incrédulo(Gl 3.7-9).
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Profecia (em grego, propheteia, Rm 12.6; 1 Co 12.10,28,29; Ef 4.11). A principal função da profecia no Novo Testamento era transmitir as revelações divinas de significação temporária que proclamavam à igreja o que a mesma necessitava saber e fazer em circunstâncias especiais. Sua mensagem era de edificação, exortação e consolação (1 Co 14.3; Rm 12.8), incluía declarações autoritativas ocasionais sobre a vontade de Deus quanto a casos particulares (At 13.1), e raras predições de acontecimentos futuros (At 11.28; 21.10). Seu ministério visava primariamente a igreja (1Co 14.4,22). Alguns profetas eram itinerantes (At 11.27), mas provavelmente haviam diversos ligados a igrejas locais (At 13.1), como em Corinto, e alguns deles são chamados pelo nome (At 11.28; 15.32; 21.9).
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O dom de “discernimento de espíritos” (em grego diakrisis pneumaton, 1Co 12.10; 14.29) era complementar do de profecia, permitia aos ouvintes aquilatar a reivindicação de inspiração profética(1Co 14.29), pra comprovar com exatidão quais afirmações era de origem divina(1 Ts 5.20; 1Jo 4.1-6) e para distinguir o profeta genuíno do falso.
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Ensino (em grego, didaskalia, Rm12.7; 1Co 12.28; Ef 4.11).Em contraste com o profeta, o mestre não proferia revelações novas, mas expunha e aplicava a doutrina cristã confirmada, e seu ministério provavelmente se confinava à congregação local(At 13.1; Ef 4.11). A “palavra de conhecimento”( em grego, logos gnoseos, 1Co 12.8), implicava em pesquisa e apreciação intelectual e se relacionava com o ensino; mas a “palavra de sabedoria” ( em grego, logos sophias, 1 Co 12.8) que expressa discernimento espiritual, pode ser ligada antes com os apóstolos ou com os profetas.
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Variedades de línguas (em grego, gene glosson, 1 Co 12.10-28) e a interpretação de línguas( em grego, hermeneia glosson, 1Co 12.10-30), pode ser entendido com uma inspiração para falar e entender idiomas jamais aprendidos.
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Dons para o serviço prático
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Dons de poder
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Fé ( em grego, pistis, 1 Co 12.9) não é a fé salvadora, mas uma medida mais elevada da fé mediante a qual feitos especiais e maravilhosos são realizados(MT 17.19; 1Co 13.2; Hb 11.33-40).
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Dons de cura (no grego, charismata iamaton, 1Co 12.9,28,30) foram dados para a realização de milagres de restauração à saúde(At 3.6; 5.15; 8.7; 19.12).
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Operação de milagres (no grego, energemata dynameon, 1Co 12.10,28), literalmente “de poderes”. Esse dom conferia a habilidade de realizar outros milagres de várias espécies (At 9.36 ;13.11; 20.9)
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Dons de simpatia
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Auxílios (em grego, antilepseis, 1 Co. 12.28) denota o socorro prestado aos fracos por parte dos fortes (ver a Septuaginta em Sl 22.19; 89.19, o verbo ocorre em Atos 20.35), e se refere aos dons especiais de cuidado pelos enfermos e necessitados.
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O liberal doador de esmolas (em grego, ho metadidous, Rm 12.8) e 3.Aquele que realiza obras de misericórdia( em grego, ho eleon).4. Ministério (em grego, diakonia Rm 12.7) O diácono está aqui em foco.
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Dons de administrações
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Governos (em grego, kyberneseis, 1 Co 12.28) são os dons e a autoridade para governar possuídos pelos anciãos líderes(1Tm 5.17).
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O homem que governa (em grego, ho proistamenos, Rm 12.8) compartilha do mesmo dom e ofício (a palavra grega é repetida em 1 Ts 5.12; 1Tm 5.17)
por Adriano Carvalho
do Rio de Janeiro para o INPR Brasil